Palestra “Trilhando o Tempo: Consciência, Responsabilidade e a Busca Pela Felicidade na Carreira ao Longo dos Anos”, com a antropóloga, pesquisadora e professora Mirian Goldenberg.
Com mediação de Gustavo Arns, a palestra remota lotou o auditório Maria de Mari. Mirian pautou a sua fala na pesquisa que realizou com 5 mil homens e mulheres, dos 18 aos 90 anos de idade. “É um relato que aprendi sobre envelhecimento, felicidade e trabalho no Brasil – que eu estudo desde 1990”, disse.
Segundo uma pesquisa mundial, feita em 80 países com cerca de 2 milhões de pessoas, a palavra felicidade tem o formato da letra U, que é uma curva. “Quando nascemos, em média, é um momento de pico de felicidade, pois recebemos tudo em termos de carinho, apoio e amor”. Ao longo da vida, a felicidade vai caindo “quando começamos a receber nãos, temos dúvidas e nos comparamos”. Com isso, a felicidade vai caindo e chega ao ponto mais baixo, em torno dos 45 anos. “É a fase que você não sabe como será o futuro, tem inseguranças”, afirmou Mirian.
Na sua pesquisa uma das perguntas era: o que você mais inveja em um homem? “As mulheres responderam em primeiro lugar: a liberdade. E em outras mulheres? O corpo, a beleza e a magreza – quase tudo associado à aparência. Perguntei aos homens, o que mais invejam nas mulheres? Eles responderam: nada”. Enquanto as mulheres invejam a liberdade, os homens não invejam nada das mulheres.
De acordo com a Mirian, aos 45 anos é a fase em que as mulheres se questionam muito. “As mulheres brasileiras, entre todos os países, são as que mais deixam de sair de casa quando se sentem velhas, gordas e feias. Deixam de trabalhar, ir à praia e se divertir”. Não à toa, o Brasil é o maior consumidor do mundo de ansiolíticos, antidepressivos, remédios para dormir e emagrecer. “Também, de viagra”, complementou.
Ainda em sua pesquisa, ela questionou: quem envelhece melhor o homem ou a mulher? “A resposta foi quase uma unanimidade: o homem”. E, segundo Mirian, apenas um grupo não concordou: as mulheres de mais de 60 anos. “Elas estão no auge da vida e dizem, nunca fui tão livre e tão feliz. É uma verdadeira revolução”.
A subida da curva da felicidade
Mirian afirmou, com base em sua pesquisa, que a curva da felicidade sobe, especialmente, para as mulheres. Pois depois dos 50 elas se sentem mais livres. “Os momentos felizes são únicos, especiais e incomparáveis. Quando envelhecemos, você deixa de ter o corpo, mas passa a ter um bem maior: o tempo”. É preciso usufruir e saborear o tempo de agora.
“Quando pergunto: qual é o seu maior medo de envelhecer? As mulheres têm medo da invisibilidade social, da decadência da aparência e falta da liberdade”, disse. Já os homens têm medo da aposentadoria, pois o trabalho é uma fonte de prestígio, status e coleguismo. “Quando se aposentam, o que resta?”. Também, da impotência, não apenas sexual, mas a social. E, por fim, medo da dependência.
A palestrante citou a divulgação da pesquisa do IBGE, divulgada este ano, que mostra que o Brasil era até, recentemente, um país de jovens. “Não é mais. Agora é um país de velhos e logo será a maior população. Os discursos e os comportamentos mudaram, mas os valores são mais difíceis de mudar, por isso essa ambiguidade com relação ao envelhecimento”.
A nossa cultura descarta os mais velhos
Para finalizar, Mirian falou de três conceitos sobre essa fase da vida: velhofobia, velhoeuforia e velhautonomia. “O conselho que carrego para a vida: tem que ter coragem”. Por fim, Mirian respondeu as perguntas dos presentes.
A palestra de Mirian Goldenberg aconteceu no XVII CONPARH, da ABRH-PR, que aconteceu nos dias 12 e 23 de abril, na FIEP – Campus da Indústria.
Foto: Leandro Provenci