Izabela Vasconcelos, de São Paulo
A recente reforma gráfica e editorial do jornal Folha de S. Paulo ainda é vista como tímida pelo diretor para o Brasil da Innovation Media Consulting, Eduardo Tessler. Para ele, ainda falta o jornal passar pela mudança editorial. De acordo com o especialista, a criação de novos cadernos e participação de novos colunistas não implica na reforma editorial.
“A mudança editorial deixa a desejar. A reforma editorial é mudar o conceito do jornal, mas ele continua sendo noticioso, não pós-noticioso. Os jornais hoje em dia devem considerar a notícia como algo que já foi dado em outros veículos, fora do papel, mas eles chegaram a anunciar esse tipo de mudança na publicidade. Eles devem considerar não o que aconteceu, porque a audiência já sabe, mas por que aconteceu e para quê, como uma revista diária”, explica.
Para Tessler o jornal O Estado de S. Paulo também não passou pela devida reforma editorial e nenhum jornal brasileiro adotou essa linha, mas cita alguns veículos que chegam próximo do pós-noticioso, como Correio Braziliense, Diário de Pernambuco e O Povo. No exterior o Liberation, Independent e Las Vegas Sun.
De acordo com Tessler, a dificuldade está na grande estrutura das empresas. “Os jornais pequenos são mais fáceis de trabalhar. O grande problema desses grandes jornais como Folha e Estado é o DNA informativo que eles não conseguem mudar”.
Impacto nos leitores
O diretor de jornalismo da Escola de Comunicação e Artes da ECA (USP), José Luiz Proença, defende que a principal mudança da Folha foi integrar as Redações impressa e online. Mas para ele, a reforma gráfica e editorial não tem o mesmo impacto que em outras décadas.
“A mudança sob o ponto de vista jornalístico é importante pela integração do impresso e online. Mas as mudanças de antigamente eram históricas. Depois da década de 90 essas mudanças ficaram mais comuns, então o impacto nos leitores é menor”.
Proença também falou da reforma no Estadão. De acordo com o jornalista, o veículo não investiu em reportagem, mas em análise. “O Estado fala da mudança deles com um certo enlevo glorioso por ter 91 colunistas. Mas o jornal não está indo atrás dos fatos, de reportagem, mas de análise”, critica.
Reforma gráfica
As mudanças gráficas no jornal são bem aceitas pela maioria dos leitores, mas criticadas pelos assinantes mais tradicionais. “O leitor sente que há um cuidado com ele. Estar sempre mudando é bem visto. Mas a primeira reação do leitor tradicional é não gostar”, explica Michaela Pivette, especialista em Comunicação Visual e Mestre em Ciências da Comunicação pela USP.
Para ela, dois fatores contribuem para a boa aceitação do leitor. “O leitor já está incorporado na mudança visual, pela publicidade que se faz do jornal, e pela cultura das mudanças. Outro ponto são os bastidores. O jornal diz: ‘olha que interessante, vamos nos aproximar e mostrar como fizéssemos isso’. É interessante que o leitor saiba como se faz”, conta a especialista a respeito da forma que os jornais comunicam suas reformas aos leitores
Fonte: Comunique-se