O Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) entregou, nesta terça-feira, o Troféu Enedina Alves Marques à Engenheira Civil Adriana Regina Tozzi, em reconhecimento ao seu talento, dedicação e contribuição para a Engenharia em suas diversas áreas de atuação.
A premiação aconteceu durante o evento “Mulheres na Engenharia: Dia Internacional da Mulher”, onde Adriana proferiu a palestra ‘Mulheres na Tecnologia’, abordando os desafios e conquistas femininas no setor tecnológico e sua contribuição para o desenvolvimento da Engenharia.
O presidente do IEP, Eng. Civil José Carlos Dias Lopes da Conceição, destacou a relevância do prêmio e a importância da trajetória de Adriana Tozzi. “É com grande alegria e imenso orgulho que nos reunimos para celebrar a trajetória inspiradora de Adriana Tozzi, marcada pela dedicação, excelência e compromisso com o ensino. Desde 2013, o Prêmio Mulheres Destaque e o Troféu Enedina Alves Marques têm reconhecido e destacado a contribuição inestimável das mulheres para as novas gerações de engenheiros”, disse. “O ensino molda os profissionais que constroem o futuro, compartilhando conhecimento, inspirando alunos, respirando inovação e preparando-os para os desafios do nosso tempo. Assim como Enedina Alves Marques, Adriana tem um trabalho que vai além das salas de aula e projetos. Seu legado se reflete na formação de profissionais éticos e na valorização da Engenharia como pilar do progresso. Sua paixão pelo ensino é uma inspiração para todos nós”, disse em sua fala de abertura.
Desafios para o futuro
A presença feminina na Engenharia ainda é um desafio no Brasil e no mundo. Esse foi o tema central da palestra ‘Mulheres na Engenharia’, ministrada por Adriana Tozzi, que trouxe um panorama histórico e reflexivo sobre a atuação das mulheres na área.
Ela iniciou a palestra contextualizando a trajetória feminina na Engenharia, relembrando de pioneiras como Emily Roebling (1843-1903), que teve papel fundamental na construção da Ponte do Brooklyn, e Veridiana Rossetti (1917-2010), uma das primeiras Engenheiras Agrônomas do Brasil. No cenário nacional, destacou a criação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1912 e a trajetória de Enedina Marques, nascida em 1913 e formada em 1945 como a primeira Engenheira negra do Brasil. Também mencionou Aida Espínola (1920-2015), reconhecida por suas contribuições à Engenharia. Durante sua pesquisa para a palestra, Adriana disse ter constatado a falta de registros que indiquem a presença feminina nas instituições de ensino, o que demonstra como a participação das mulheres na Engenharia foi historicamente invisibilizada.
Por que apenas 19,3%?
Um dos questionamentos levantados por ela foi: por que, em 2024, apenas 19,3% dos engenheiros registrados no Brasil são mulheres, de um total de 1,3 milhão de profissionais? O dado se alinha à estimativa da UNESCO de que menos de 30% dos cientistas no mundo sejam mulheres.
Adriana ressaltou que essa disparidade não se deve a diferenças cognitivas, mas sim aos processos de socialização que limitam o acesso e a permanência das mulheres na área.
Segundo ela, as dificuldades para as mulheres na Engenharia vão desde a falta de estímulo na infância até barreiras estruturais no mercado de trabalho. Entre os principais problemas apontados, ela citou preconceito e estereótipos de gênero, cultura que desencoraja meninas a seguirem carreiras em Exatas, falta de perspectiva no mercado de trabalho, progressão profissional mais lenta do que a dos colegas homens, acúmulo de responsabilidades familiares, como o cuidado com os filhos, tensão nas relações conjugais devido às exigências profissionais, excesso de autocrítica e baixa autoestima e assédio moral e sexual no ambiente de trabalho.
Para mudar esse cenário, Adriana apresentou algumas estratégias que podem ser implementadas por gestores. “Elenco metodologias que estimulem a prática desde cedo e que podem ajudar a desmistificar a ideia de que a Engenharia é uma área inacessível para mulheres. Também, é fundamental combater a evasão, visto que a maior parte das desistências ocorre nos primeiros anos da graduação”, disse. “Ainda, cito a importância de desmistificar as Exatas, incluindo as meninas em programas educacionais voltados às ciências exatas pode contribuir para um maior interesse pela área”, disse.
A palestra ministrada por Adriana Tozzi mostrou que, apesar dos desafios, é possível criar condições para que mais mulheres ingressem e permaneçam na Engenharia. “A mudança exige esforço conjunto entre sociedade, universidades e empresas, garantindo que o futuro da Engenharia seja cada vez mais diverso e igualitário”, concluiu.
Durante o evento, foi apresentada a Cartilha de Prevenção e Combate ao Assédio Moral e Sexual no Ambiente de Trabalho e a proposta do Selo de Boas Práticas no Combate à Violência Contra a Mulher, iniciativa criada com base na Lei 14.188/2021, desenvolvido pela ABNT em parceria com o Instituto Nós por Elas, e que estabelece 14 indicadores para empresas que desejam demonstrar seu compromisso com a proteção e o respeito às mulheres em seu ambiente de trabalho. A meta é certificar 10 mil empresas no Paraná em cinco anos.
Sobre a homenageada
Adriana Regina Tozzi é graduada em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUCPR (2000) e Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS (2004). Como engenheira civil atuou na Implantação e Gerenciamento de Sistema de Qualidade em Obras Industriais, principalmente na área de instalações hidráulicas, elétricas e de prevenção contra incêndio. Como professora de engenharia, ministrou as disciplinas de construção civil, mecânica dos solos, estatística aplicada, ferramentas da qualidade e cálculo diferencial e integral. Atua em ensino de engenharia desde 2002, assumindo a coordenação do curso de engenharia civil da UniBrasil em 2014. Foi coordenadora do Colégio de Instituições de Ensino do CREA PR gestão 2019 – 2021. Atualmente é coordenadora adjunta do Colégio de Instituição de Ensino da regional de Curitiba do CREAPR, avaliadora da Revista Técnico-Científica do Crea-PR e coordenadora do curso de engenharia civil EAD do Centro Universitário Internacional Uninter.