Em busca do público, estúdios de Hollywood têm investido no marketing quase o mesmo que na produção dos filmes
O diretor brasileiro Fernando Meirelles conta que, durante divulgação de longa, perdeu sete quilos e não lembra por onde passou
O jornalista Sergio Augusto tinha 21 anos quando, em 1963, foi a Nova York, a convite da United Artists, para ver “Deu a Louca no Mundo”. “Pegaram a gente em Nova York, levaram para Los Angeles e, chegando lá, fomos recebidos com tapete vermelho e bandinha”, relata.
“Ficamos no Beverly Hilton. O [diretor] Stanley Kramer se reuniu com a gente e, depois, houve uma festa na casa dele.
Fiquei bobo. Era uma verdadeira Disneylândia”, conta.
Essa Disneylândia evaporou.
Em seu lugar, surgiu outra terra, a do marketing. É sabido que os estúdios, desde o início do negócio de cinema, têm de criar não apenas os filmes, mas também o público. Hoje, porém, com as mil ofertas de diversão do mundo, as estratégias para fisgar o público se sofisticaram.
“Agora os estúdios investem no marketing quase o mesmo que investem na produção”, diz o pesquisador Edward Jay Epstein, de Harvard. “A realização de entrevistas com o astros fazem parte do marketing.”
O público, ao ver ou ler entrevistas com Brad Pitt ou Harrison Ford, não tem ideia da engrenagem por trás de cada frase, de cada aparição. No caso dos grandes estúdios, os eventos para a jornais, revistas e emissoras de televisão são organizados pela matriz.
Hollywood define até mesmo o número de repórteres que um país como o Brasil terá nas entrevistas. Em geral, são cinco ou seis. “Mas recentemente, como a Warner Brasil vem ganhando importância pela expressiva bilheteria, também temos conseguido mais espaço”, contabiliza José Carlos Oliveira, diretor-geral da Warner.
Em boa parte das empresas, o evento, em tese, jornalístico, é organizado pelos departamentos de marketing. É a estratégia comercial que define, por exemplo, se um jornalista participará apenas das entrevistas coletivas ou se ficará a sós com o artista. Cabe também aos estúdios definir quanto tempo cada entrevista durará.
No caso das distribuidoras independentes, que compram títulos de diferentes estúdios, os eventos são organizados por empresas que vendem as vagas. “Se eu tiver interesse comercial, vou pagar a despesa de um jornalista para que ele faça uma entrevista”, diz Márcio Fraccaroli, da Paris Filmes. “Mas também posso investir só na passagem e no hotel e o veículo arca com a inscrição.”
“A decisão em participar depende do potencial do filme para o mercado. Depende também do apelo que os atores ou diretores têm junto ao público”, diz Rosa di Sabbato, diretora de marketing da Imagem.
“Existem outras oportunidades criadas pelo estúdios para atender, por exemplo, as revistas mensais, que têm outros prazos. As filmagens também podem ser uma oportunidade para que haja essa aproximação”, diz Tito Liberato, da Fox.
Estafa
Se, para os estúdios, esses eventos são a chance de criar um falatório em torno do filme e, para a imprensa, de conversar com figuras inacessíveis fora do mundo encantado, para os artistas as maratonas costumam ser uma prova de fôlego.
“No “Jardineiro Fiel”, me mandaram para todos os cantos do planeta. Devo ter falado com uns 300 jornalistas”, conta o cineasta Fernando Meirelles.
“Nesse período, não conseguia mais dormir, perdi 7 quilos, nem sei dizer por quais cidades passei e não reconheceria as pessoas que me recepcionaram.” Meirelles admite que, não raro, os jornalistas, também fatigados, patinam em perguntas repetitivas.
Outro aspecto que a grandiosidade imprime aos eventos é o da sedução. Na atmosfera festiva, não tenderiam os jornalistas a gostar mais do filme? “Isso é Hollywood. A especialidade deles é envolver as pessoas”, diz Fraccaroli. (ANA PAULA SOUSA)
Fonte: Folha de São Paulo