Inovação e reforma: os cenários de oportunidades e desafios para o agro nacional

26 de agosto de 2024


As perspectivas e transformações para o futuro do Agronegócio foram tema de workshop promovido nesta quinta-feira pela manhã na Associação Comercial do Paraná (ACP), com a presença de quatro convidados e a mediação do Conselheiro da ACP,

Guilherme Paludo.

 

As boas-vindas foram dadas pelo Presidente da entidade, Antonio Gilberto Deggerone, que agradeceu a presença de autoridades renomadas no setor agro para discutir temas que, a cada dia, contribuem para melhorar a vida de quem trabalha no campo e para aqueles que buscam inovação no setor. “A ACP saberá retribuir os valiosos conteúdos compartilhados, transmitindo esse conhecimento aos seus associados e ao mercado”, disse.

 

Em seguida, o Executivo de Contas da ACP, Gilmar Lara, apresentou o Agrocredit, produto inovador desenvolvido pela equipe da Casa para atender às necessidades específicas do segmento agro. “A ferramenta foi criada para enfrentar um dos maiores desafios dos analistas de crédito: realizar uma análise mais abrangente dos dados. Tradicionalmente, o mercado se concentra em aspectos comportamentais, ignorando outros fatores que podem impactar significativamente o score de crédito”, explicou. Segundo ele, essa nova solução utiliza dados macroeconômicos, coletados por satélite, para oferecer uma análise mais justa e precisa para quem busca crédito no setor agro. “A ferramenta abrange todo o ciclo de negócios do agronegócio, desde a coleta dos dados até a concessão de crédito, proporcionando uma visão mais completa e justa para os produtores que necessitam de recursos para investir em suas operações”.

 

O workshop foi aberto pelo Secretário Estadual da Fazenda, Norberto Ortigara, que falou sobre os “Programas de Incentivo para o Agro”. Ele disse que o setor agro no Brasil, especialmente no Paraná, é de extrema relevância e tem evoluído de forma impressionante. “No Paraná, o agronegócio representa 37% do PIB, enquanto no Brasil, esse número é de 24%. Essa evolução foi responsável por um crescimento de 5,8% na economia paranaense em 2023”, citou. De acordo com o Secretário, hoje a base do agro não se sustenta mais apenas na força física, mas sim na trilogia formada por ciência, conhecimento e inovação. “Com uma força de trabalho mais jovem e dinâmica do que em países como os Estados Unidos e na Europa, o agricultor brasileiro tem uma capacidade notável de compreender e incorporar inovações rapidamente em sua produção”, lembrou.

 

Segundo ele, esse desenvolvimento fez com que o Brasil deixasse de ser um importador de alimentos para se tornar um dos maiores players globais no mercado de alimentos. Nos últimos dez anos, o setor agro gerou US$ 800 bilhões líquidos para o Brasil, dos quais US$ 118 bilhões foram para o Paraná”, elucidou. “O Brasil está produzindo 290 milhões de toneladas de grãos em 2024, e a projeção para 2030 é alcançar 500 milhões de toneladas. Esse crescimento é impulsionado por uma taxa de produtividade de 2,5% ao ano. O Paraná se destaca como o maior produtor de carne do país e o segundo maior de leite, mostrando a importância do setor para a economia local. Há um esforço contínuo para fomentar investimentos na produção, garantindo que o Brasil continue a crescer e a se consolidar como líder global na produção de alimentos”, concluiu.

 

Em seguida, o Consultor Jurídico da OCEPAR, Rogério Croscato, explanou sobre o tema “Perspectivas da Reforma Tributária para o Agro”, informando que o setor jurídico da entidade tem acompanhado de perto as discussões sobre a Reforma Tributária, identificando tanto oportunidades quanto desafios para o setor agropecuário.

 

“A Reforma propõe a simplificação do modelo tributário vigente desde 1988, incluindo a unificação de impostos, o que promete trazer maior dinamicidade ao sistema. No entanto, há ainda detalhes a serem esclarecidos, especialmente no que se refere à incidência da tributação no setor agro”, citou.

 

Para Croscato, o governo estadual tem incentivado o setor agro, uma iniciativa inteligente que se traduz em mais empregos e desenvolvimento, especialmente no interior, onde o agro é predominante – hoje, 60% da produção agropecuária no Paraná passa pelas cooperativas.

 

Entretanto, há pontos de alerta. “A questão do diferimento para insumos e a redução de alíquotas, embora positivas, ainda não são suficientes. Os cálculos indicam que haverá um impacto financeiro relevante para o agro, pois o aumento da tributação pago pelo consumidor final pode afetar toda a cadeia produtiva. Uma das grandes preocupações do setor é a possibilidade de que os preços da produção sejam achatados, especialmente no início da cadeia produtiva”, alertou.

 

“Com a Reforma Tributária, surge a pergunta: ‘como o mercado se comportará?’ O papel dos advogados será crucial para entender as mudanças, orientar os negócios e prever como o mercado reagirá em termos de preços. A reforma é uma virada de página para o Brasil, trazendo ganhos em competitividade e simplificação, mas também exige ajustes no que diz respeito aos custos”, encerrou.

 

“Inovação e Benefícios Fiscais para o Agro” foi o tópico que pautou a fala de Jefrey Kleine Albers, que representou a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) e lembrou como a inovação no agronegócio é fundamental para o desenvolvimento do setor, especialmente no Paraná, um estado privilegiado pela sua capacidade de produzir grandes volumes de dados e por ser uma potência agrícola.

 

Com apenas 2,3% do território nacional, o Paraná abriga 305 mil estabelecimentos agropecuários, e responde por 77% das exportações do estado são provenientes do agronegócio. No contexto nacional, o Paraná se destaca tanto na produção quanto na exportação, com uma evolução impressionante ao longo das últimas décadas.

 

“Comparando as safras de 1979/80 com a de 2022/23, houve um aumento de 36% na área cultivada, 150% na produtividade e 228% na produção total. Essa evolução é resultado de uma melhor exploração da área disponível e da adoção crescente de tecnologias avançadas”, disse Albers.

 

Segundo ele, para 2030, a expectativa é que a produtividade atinja 5,5 mil quilos por hectare, em comparação com os 4,5 mil atuais. “Esse avanço é possível graças à adoção de tecnologias como o melhoramento genético, manejo integrado de pragas e doenças, pulverização por drones, nota fiscal eletrônica, bioinsumos, agricultura de precisão, tratores automáticos, conectividade e práticas sustentáveis alinhadas aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e ESG (Environmental, Social, and Governance). Essas inovações não apenas aumentam a eficiência e a produtividade, mas também refletem uma gestão mais consciente e preocupada com fatores que impactam toda a cadeia produtiva, mesmo aqueles que não afetam diretamente o produtor”, finalizou.

 

Concluindo a programação da manhã, foi apresentado o painel “Sustentabilidade no Agro e Tax ESG”, com Hadler Favarin Martines, Sócio da PwC Brasil, que frisou que a contínua adoção de tecnologia no campo – somada ao cuidado com o meio ambiente e o equilíbrio – é essencial para manter o Paraná e o Brasil na vanguarda do agronegócio global, garantindo a sustentabilidade e competitividade do setor no futuro.

 

“Em uma sociedade cada vez mais complexa, onde parte das famílias brasileiras tem raízes na produção rural, o agronegócio brasileiro tem se destacado pela sua sustentabilidade”, citou. Para ele, é fato que nos últimos anos a forma como empresas e produtores conduzem seus negócios mudou significativamente, com os tributos assumindo um papel crucial na agenda ESG (Environmental, Social, and Governance).

 

“A parte tributária não apenas funciona como um catalisador para a agenda ESG, mas também desempenha um papel vital na arrecadação de recursos. Assim como os consumidores exigem cada vez mais transparência nas operações das empresas, a sociedade também demanda um tratamento adequado e ético dos tributos. Essa pressão por transparência e responsabilidade fiscal é uma tendência crescente, reforçando a importância de uma abordagem mais ética na gestão tributária por parte das empresas do setor agropecuário”, encerrou.

 

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